Um grande desabafo

Olá gente! Quanto tempo! Como vocês devem ter percebido, eu estive sumida por um tempo, tanto aqui quanto no youtube. Mas eu avisei no facebook que eu tinha pego uma gripe muito forte que impossibilitou-me de fazer algumas coisas. E essa gripe juntou com fim de período aí vocês já viram né?! Adeus mundo, adeus vida.

Pois bem, passei por fim de período como muitos de vocês. Virei noite, fiz o meu máximo (como muitos de vocês). O meu professor mandou um email para a turma avisando que teríamos a apresentação do projeto da terça feira (ontem) e que teríamos na banca um professor convidado para criticar os projetos, sendo esta uma oportunidade ÚNICA de crescimento e aprendizado. O que eu achei? Ótimo! Teríamos uma tarde de discussões e opiniões válidas, muitas delas vindas provavelmente do professor convidado.

Como de costume gastei um bom tempo diagramando as pranchas (8 no total) e virei de segunda para terça. Me pesei na terça e vi que tinha perdido quase 1,5 quilos. Muito tempo trabalhando, pouco tempo comendo. Rotina típica de um aluno do curso de arquitetura. Coisa que apesar de que não deveria ser, é considerada normal no curso de arquitetura.

O projeto que eu tinha para apresentar tratava-se de um projeto de um Edifício Comercial. Ele havia sido feito em grupo, com mais duas pessoas que eu muito admiro. Estas pessoas também haviam virado a noite comigo, dado o seu melhor, se esforçado para que o projeto fosse o mais longe possível em termos de arquitetura e apresentação tendo em vista o tempo que havíamos tido para fazê-lo.

Bancas: a nossa rotina final de cada período!
Bancas: a nossa rotina final de cada período!

Pois bem, chego eu na sala e começo a assistir as apresentações dos meus colegas de classe. Muitos projetos bem apresentados. Alguns com alguns problemas de circulação, acessos e outras questões relacionadas ao projeto em si. Mas estávamos ali para discutir sobre os projetos. Se não tivessem problemas não teria sentido estarmos ali. Vi uma apresentação atrás da outra e nada de nenhum aluno falar nada. Comecei a perceber que o “professor convidado” estava agindo como dono da verdade, dizendo frases como “este projeto, de fulano de tal: isto não funciona. Isto é péssimo.”. Além de coisas como, na hora da apresentação, interromper o aluno e dizer “essa saída aqui, para onde a pessoa vai? Não tem saída aqui?…” então havia um silêncio na sala. “Este shaft, o que é isso? A lateral do shaft é na fachada?”. E então um grande silêncio. O aluno deveria ter respondido. Mas não respondeu. Porquê?

Porque simplesmente aconteceu a situação que acontece na maioria das nossas faculdades de arquitetura: professores que se acham no direito de saberem de tudo. Se acham no direito de falar de forma grossa e ríspida com seus alunos. Professores que não respeitam os alunos, que interrompem quando falam, que não se importam com os alunos.

Ser capaz de respeito é hoje em dia quase tão raro quanto ser digno de respeito.

Veja bem: alunos são serem humanos. Como podemos aceitar uma situação dessas nas nossas faculdades? Como podemos aceitar passivamente situações em que professores humilham os alunos, com a sua forma de falar e com suas ações? E por que não revidamos? Por que consideramos o desrespeito algo normal em nossas faculdades?

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Porque consideramos o desrespeito algo normal em nossas faculdades?

Parece que virou uma cultura generalizada de arquiteto ter esse tipo de personalidade. Me desculpem, mas não quero ser esse tipo de pessoa. Não quero ser esse tipo de profissional. Não foi essa a educação que eu tive. E essa não deveria ser a educação que temos nas nossas faculdades. Não é questão de “Ha, mas arquitetos são críticos, nós temos que criticar um projeto quando o vemos.” Mas o que você esqueceu meu querido amigo, é que existe uma diferença entre saber criticar e saber falar.

Eu te dou o direito de me criticar, mas que seja uma crítica construtiva. Porque crítica destrutiva, para mim é apenas uma forma de humilhar o ser humano.

Imagine a seguinte situação: você está em uma sala de aula com várias crianças. Elas estão desenhando e uma delas pega o desenho da outra, rasga, amassa e joga no lixo. Então você vê que aquela criança que se esforçou o máximo para fazer aquele desenho cai aos prantos porque alguém se achou no direito de avaliar aquilo como uma folha qualquer, algo que deveria ser rasgado e jogado no lixo. Você vê aquilo acontecer e não faz nada? Você faz. Você vai na criança que fez aquilo com a outra e fala para ela: “Porque você fez isso? Você não desenhou o seu? Porque você não deixa o meu amiguinho desenhar o dele também? Você tem que respeitar o seu amigo! O desenho é dele, ele tem o direito de desenhar aqui tanto quanto você!”

Eu sou a criança que teve o desenho rasgado, a criança que rasgou foi o professor convidado e você deveria ter sido o meu professor de projeto, que apesar de conhecer o nosso projeto, ter visto a nossa trajetória, as lutas e dificuldades que tivemos para terminar o projeto, resolveu assistir aquela cena de forma completamente passiva, como se fosse super normal.

Professores doentes formam alunos doentes para uma sociedade doente.

No final das contas eu e o meu grupo fomos os últimos a apresentar o projeto. Isso já era 16:00 hrs. O super “professor convidado” percebeu às 15:00 hrs que estava falando muito sobre cada projeto e que agora iria comentar os projetos de dois em dois. O esquema era que cada grupo teria 10 minutos para falar sobre o seu projeto. Então chegou a nossa vez. Finalmente, depois de 4 horas esperando, tinha chegado a nossa vez!

Pegamos a nossa maquete e ligamos o meu note ao projetor. Comecei falando do projeto e então sou interrompida:” Passa, isso eu não quero ver.” Engoli. Passei para a próxima prancha. Sou interrompida novamente: “Tah, já entendi, aqui é a biblioteca, aqui é o cinema, passa. Cadê as plantas??”. Passo para a prancha com a planta do térreo, o “professor convidado” simplesmente vira e começa a ver a maquete. FIM DA APRESENTAÇÃO.

Falo que faltam outras pranchas e ele me interrompe: “eu tenho 2 minutos. Tenho que ir embora. Não dá mais”. Termino a minha apresentação (se é que aquilo pôde ser considerado apresentação).

Em algumas situações, um professor poderá precisar ser duro com seus alunos, porém com respeito e justiça. Com o tempo, os alunos aceitam as críticas duras, mas nunca devem aceitar injustiças e desrespeitos.

Caros leitores, confesso para vocês que nestes 4 anos de faculdade nunca vi tanto desrespeito por parte de um ser humano. Nunca vi algo do tipo e espero nunca mais ver. Não tenho nada contra as críticas do professor convidado. Algumas coisas que ele falou faziam realmente muito sentido. Mas a forma como ele tratou os alunos tirou todo o mínimo respeito que eu tinha com relação a ele. Não tive o interesse de chegar em casa e pesquisar os projetos dele. Não tive o interesse de saber mais sobre a carreira profissional dele. Por que antes de ser estudante, arquiteto e profissional você precisa ser ser humano. Você precisa aprender a tratar os outros com respeito.

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Críticas construtivas e respeito são fundamentais em uma discussão em sala de aula.

Ele poderia não se importar com a diagramação? Poderia não se importar com a fachada, com as cores, com qualquer coisa que saísse da “caixinha” do que ele considerava arquitetura? Sim! Mas a apresentação do projeto era algo que tínhamos o direito. Era o resultado final de todo o esforço que havíamos tido no período. O projeto poderia estar péssimo, mas tínhamos o direito de apresentá-lo. Afinal, havíamos virado noite como todo mundo. Havíamos cumprido o prazo como todo mundo. E tínhamos os 10 minutos como todo mundo.

E o pior foi o “professor convidado”, ao chegar na hora da nossa apresentação, falar: ” Vamos logo que eu estou com fome. Eu tenho dois minutos. Eu tenho que ir embora!”. Querido, porque você não tira esse egoísmo de pensar só em você e pensa nos outros? E nós que nem tomar café da manhã havíamos tomado? E nós que estávamos ali esperando 4 horas para apresentar o nosso projeto? Custava pensar no outros? Se você estava com pressa, que fosse embora! Teríamos tido uma discussão muito mais saudável sem você ali. Se você precisa ir embora, se tinha compromisso, porque não pensou nisso antes e administrou melhor o tempo para falar por menos tempo sobre cada projeto, visto que tínhamos vários grupos para apresentar os trabalhos?

O que me traz mais indignação é ver que uma das alunas quase chorou após a apresentação, após ter ouvido os comentários do “professor convidado”. Não a culpo. Eu mesma enchi os olhos de lágrimas depois da minha apresentação. Não pelos comentários, não pelas críticas. Mas pela situação que eu fui obrigada a passar naquela sala. Pela humilhação que foi ter que ser submetida à uma atitude dessas de uma pessoa que simplesmente chegou ali se achando o dono da verdade.

O que me traz mais indignação é que ver que uma das alunas quase chorou após a apresentação, após ter ouvido os comentários do “professor convidado”.

A parte boa de tudo isso é a reflexão que isso me trouxe. A questão é: porque deixamos situações como essas acontecerem? Porque consideramos algo normal ver pessoas serem submetidas à situações de humilhação e menosprezo como essas? Já tive diversos professores, alguns com vigor e conhecimento aprofundado e reflexivo sobre arquitetura, professores que pensavam da maneira como o “professor convidado” pensava. A diferença é que eles sabiam respeitar os alunos. Eles sabiam como tratar os outros. Pessoas que eu até hoje admiro.

Vivemos em sociedade, o mundo não nos pertence, nós pertencemos ao mundo. Se não sabemos tratar as pessoas com respeito, se não sabemos criticar sem desrespeitar, se não sabemos nos comunicar da forma correta, precisamos rever os nossos conceitos. E se você é aluno e está lendo esse post, não seja passivo diante de situações como essa. Não aceite. Não aprenda a agir como esses professores agem. O mundo não precisa de pessoas assim. O mundo precisa de arquitetos que saibam dialogar, conversar, expor as suas opiniões e que estejam abertos à novas opiniões. Mudemos a nossa forma de pensar. Reflitamos sobre o que acontece à nossa volta e não aceitemos situações como essas. Isto não é certo.

Bem, este foi o meu desabafo que eu precisava fazer. E aqui embaixo deixo o meu projeto que embora pudesse ter sido muito mais aprofundado, não foi devido ao tempo que tivemos para fazê-lo. Depois faço um post falando sobre a diagramação dele, que é algo que eu sei que vocês vão querer saber!

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Um grande abraço,

Marina 🙂

 

[ATUALIZAÇÃO]

Para os arquitetos de plantão formados que concordam com esse tipo de atitude, que acham normal situações como essas porque servem para  “amadurecermos”, que acham que a vida é assim mesmo e que o desrespeito ao outro é algo que temos que engolir: saibam que o meu próprio professor deste projeto me enviou um email pedindo desculpas sobre o ocorrido. Então se o meu próprio professor se desculpou, isto deve servir de alerta para os que concordam com esse tipo de atitude. Não é mimimi, não é choro, não é ser fraco. É saber até que ponto um ser humano deve se submeter ao outro. Os alunos sentem medo dos professores porque não são estimulados ao debate por parte destes. Se existem professores que querem tratar a sala de aula como ele trata os outros no escritório dele, ele não deveria estar ali, porque faculdade não é lugar para isso. Faculdade é lugar de criar caráter, de amadurecimento, de aprendizagem e principalmente de formação.

 

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Sobre a autora

Olá! Seja bem-vindo ao meu blog! Esse blog foi criado em 2014, quando eu ainda era estudante de Arquitetura da FAU-UFRJ! Aqui eu compartilho tutoriais, dicas, reflexões e informações sobre Arquitetura e Design. Em 2019 eu me mudei para os EUA para fazer o meu mestrado em Design de Interiores, trabalhei em uma das maiores firmas dos EUA (Perkins&Will), e hoje sou fundadora do Design Path Academy, uma Academia Online de preparação de profissionais estrangeiros para o Mercado Americano. Aproveite o conteúdo do blog e caso surjam dúvidas, sinta-se à vontade para deixar a sua dúvida nos comentários! Eu sempre respondo! :)

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